segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Nossa Cena

Quer inventar? Você pode pegar todos esses baldes de tinta e jogar com suas combinações de cores na tela do meu coração. Quando tudo se une e as cores se entrelaçam, o escuro é no fim o que prevalece. Ainda sim, amo teu prazer e os desafios impostos por ele com toda proporção da sua fala. Ninguém no mundo poderia imaginar como eu sinto falta dos momentos de impulsão. Aonde quer que eu vá, tenho tantas coisas pra lembrar. Um misto de sensações me faz perceber, dia pós dia, que nada é mais importante do que a travessia. Nessa cena, minha e tua, de experiências perfumadas e vocacionais, posso perceber o quanto te quis ao meu lado. Aflição me vem à mente, quando me vejo diante de uma tela e só um pobre conteúdo de nanquim me convida a rabiscar. Será possível demonstrar sensibilidade se não, cuidando bem do meu amor? Quero inovar, mas quem disse que eu consigo? Consegue perceber o quanto é difícil gostar de si próprio? Conhecer alguém se iguala à primeira experiência de pintor. A relação deve enlaçar a parte íntima, pincel e tinta. Sempre que se destoam em uma tela, cores performáticas, há sentimentos? Analisar cenas é inviável. Não quero estar no lugar onde poderei ver meus quadros partirem. Saudade dos convites para criação de arte na praia. Apenas queria marcar minha história e causar boa impressão. Queria na verdade transformar toda minha desilusão numa linda canção. Como num teatro, as cortinas fecham. Na vida dos meus quadros, as tintas ressecam, as cores desbotam e por fim se tornam inúteis. Tudo tem seu tempo de vida, tudo se comunica. Não saem da minha cabeça todas as lágrimas que borravam meus quadros. Quando pinto, prefiro estar no escuro. A inconseqüência dos atos me alegra. Agora, pra me fazer feliz é só usar as cores certas. Não é tão difícil, se esforce! Eu sei que você pode! Não posso morar com você. É mais fácil à distância. Você se perderia nas combinações de tintas. Tropeçaria em quadros importantes. Chego até a pensar que você se irritaria se eu pintasse a ponta do teu nariz de azul, quem sabe uns pingos de branco. O grande erro anda me perseguindo... Uso você para todas as artes, como inspiração para todos os meus modelos e criações. Essa cena se repete: a nossa cena! Mudaria muita coisa se você decidisse aprender comigo a esculpir toda a sensibilidade. Você vive dizendo que não dá, que não tem tempo pra arriscar, recomeçar uma forma irregular. Não tenho força, na verdade as perco de acordo com o tempo no qual tento te convencer de maneira vencida. Quando olho minha aquarela descomposta, percebo o quanto fora do padrão de colorido me encontro. Quem sabe meus pincéis também ressequem em breve. Terei de te culpar. Paro e vejo lá longe, vêm chegando novas telas. Quanta vontade de felicitar meus gestos e na sublime forma alcançar algum sucesso. Acredito no valor dos meus traços, mas será que no mundo fora do meu mundo essas obras teriam valor? Os cortes dessas cenas podem montar um clipe sem as partes de sofrimento. Quero levar a vida assim. O primeiro ato seria rasgar tua tela, o corte de você. aaah como eu sou feliz! Se eu soubesse o quanto era fácil, já viveria desse modo faz tempo. Apenas sentar na minha cadeira, editar meu filme, separar uma folha e nela apenas grafar as reticências de um momento no qual me amo acima de tudo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Saudade

Bate aqui dentro de mim. Uma nota perfeita desfaz as intenções. Saudade essa que me arranha, me invalida, me faz perecer diante dos suspiros escorregadios deste quarto vazio. Tematizo meu lar sombrio onde desfaço minhas emoções. Devaneio inculto, deplorável mundo de arranha-céus. Mundo que me deserda dos teus prazeres, dos seus sublimes olhares ímpares, da pluralidade do ser, da intenção, do modo. Onde terá ficado meu impuro desalinho? A forma que me contorço, forma que fiz pra te contornar, contornos ideais que combatiam minha loucura? Um mero compasso sem meu par pra dançar. De um lado suas roupas, do outro seu perfume. Perfume: um impuro acorde místico, salvador de noites de ares estagnados. As ventanas se abrem e a cortina esvoaça. Uma força me transporta ao peitoril da estreita varanda. A Lua resplandece sutil em sua fase crescente. Um arrebatador disparo... Abro os olhos. Saudade porque assombras a mim? Fui tão fiel aos meus sentimentos. Traduzo essa infelicidade em palavras e escrevo mais do que como, talvez mais até do que respiro. Um grito incerto. Algum fato. Relógio travado. Vergonha por não me conter, por não saber a noção do certo ou do errado. Tenho medo de querer e de ainda mais à longitude dos graus e a distância dos pólos: a insegurança. No fim acaba não sendo saudade, mas medo de enlouquecer e não crescer. Medo da indiferença do querer. Saudade do toque do telefone anunciando você. Saudade da sombra atrás da porta, dos teus sonhos, teus estampidos, teus zumbidos, teus colapsos, teus defeitos e manias. Saudade, nada mais.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Adjetivando um pé 34

Na verdade, eu nunca havia tocado em um pé 34. Vi marcas do tempo. De uma delicadeza sutil e fina. Encontrei-o ao vê-lo exposto ao sol de um inverno ameno. O movimento dentre vários anéis de fumaça foi instável. Uma tensa levada inconseqüente, provocando uma dor vertente, num plano de fala florescente de entendimento e paladar. Foi quando, quimicamente, estanquei o sumo carnal, posto em uma velocidade derradeira sem fim. Um talho de proporção desnecessária, feito de necessário por um acaso do tempo, onde conceitos se mudam, palavras somem ou se fazem faltar, momentaneamente e, são transformados em pensamentos turvos e célebres dentro de um contexto mútuo. Ainda sim, tudo se iniciou do toque ao pé 34. Mesmo de conceito pequeno se agiganta, proporcionalmente, diante de quem o possui. A clareza e a necessidade de marcar fazem do 34 um número significativo em minha vida. A situação era clara para quem passava e via a cena. Num momento cujas informações não se encaixavam, alguém buscou entender e ainda sim, como porta para toda uma resolução de causa nobre, mostrar diagonalmente o quanto era importante à imposição dessa relação. A instabilidade com a qual esse pé 34 veio pisando em meu mundo, confesso, foi percebida desde o primeiro passo. Hoje, sei que cada palavra por mais arrogante que tenha sido pronunciada, foi de muito valor para que nos dias de hoje teus pés de volúpios traços cruzassem, com classe, um espaço de rota em km impercebidos. Pode até ser curativo para o seu maldito talho, o veneno da presença ou o embaraçoso de um pranto simples, onde verdade combinada com espelhos te faça melhor. Possuo o antídoto, mas me reservo a fórmula. Fórmula cuja intenção se mascara e, nem a sutileza de um pé 34 pode desmascarar.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ela

Ela criava vínculo entre o mar e seus olhos. A água agora era parte de um só. Um só partido de sofrimento que vem e vai. Ela tinha medo, ela era só. Uma forma única de viver e de ser: ela. Foi abandonada, enganada, humilhada. Uma alma procurando campos livres, independência. Até para levantar, a pobre coitada, tinha medo. Ela sabia que era importante seguir e prosseguir com os sonhos vivos. Não podia se entregar, não podia deixar de amar, de viver. Ela vivia na pureza, era beleza, encanto, mas aprendeu vivendo ali que nada sem seu amor poderia reluzir. Um amor não-amado compôs seu passado, seu destino então foi selado pelo caminho do cárcere sentimental. Ela queria amar, mas seu coração não. Queria mostrar ao mundo tudo o que tinha trazido para despejar como proteção, queria deixar de ser o problema e queria ser a solução. E quem disse que sempre era tomada de disposição. A menina tinha se tornado feroz, um algoz do próprio destino. Não pensava em reescrever seu destino, não podia dar as costas ao seu amor profano, insano. Ela que era mais do que pensava ser, ela que era um digno ser dentre os seres sem razão. Ela só queria amar novamente.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Como pode?

A nossa relação não era fácil. Aliás, estava bem distante de ser uma das melhores. E, quando eu digo que era distante, era distante MESMO. Mas confesso que, praticamente, era eu a responsável por isso. Embora eu não demonstrasse tanta vontade assim de estar em tua companhia, ele estava sempre ali, por perto. Inevitável que houvesse uma desavença aqui e ali, afinal possuíamos personalidades extremamente opostas. Estava tudo como de costume e num impulso, eu preferi me desfazer daquela pseudo-relação, sabe-se lá o porquê. Uns poucos dias foram mais que suficientes pra eu voltar atrás e perceber que não era assim. Realmente me dei conta de todo o sentimento que existia em mim. E foi aí que ele resolveu usar de um comportamento que não era dele. E mudou tanto. Não sei se por vingança, pra 'dar o troco' ou sei lá. O que sei é que de forma alguma aquilo me parecia sincero. Não, não mesmo. Ele não era assim, não aquele por quem eu me apaixonei. Aquele que antes era tão doce e exalava uma pureza própria, agora adotava comportamentos tão fúteis e desnecessários. Aquele que se fez notar por ser único, agora era é tão.. igual. Qual é a explicação (plausível, por favor) pra tamanha mudança? Orgulho?! Só pode. Aquele sentimento que existia não pode ter evaporado. Não pode. Não há razão pra tanto. Ai, será que ele não enxerga? Eu esqueço que estou falando de um homem. Homem tem cromossomo Y, de Ydiota!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Licença?

Há poucas horas eu recebi uma visita inesperada. A visita de um sentimento que eu confesso não saber explicar. É uma mistura de tristeza, angústia, ausência.. não sei. Nada muito convidativo ou, no mínimo, legal de se sentir numa segunda-feira chuvosa. O fato é que quando ela veio bater à minha porta, eu abri. Sentamos e dialogamos durante um bom tempo. Servi a ela, as melhores coisas que eu tinha, na esperança de que ela se satisfizesse e me deixasse em paz. Mas ela não me poupou em nada, aliás, não hesitou um só momento em fazer plantar esse nó no meu peito. Esse nó que é sinônimo de angústia, de um mal-estar que me faz faltar até o ar. Parecia mesmo não ter jeito, ela queria permanecer de toda forma. Nada lhe parecia suficiente e a minha companhia lhe deveria ser bastante agradável ou simplesmente, conveniente. Ou talvez, ela estivesse apenas fazendo questão de ficar para que eu me desse conta do porquê dela estar ali. Mas eu não sabia. Quero dizer, eu sabia, mas fazia de conta que não. Acho que fui capaz de perceber isso a tempo. Embora estivesse na iminência de entregar as cartas, fui obrigada a criar forças e condições para pedir a ela para que, gentilmente, se retirasse. Por vezes, me surpreendo lembrando de alguns trechos do nosso diálogo, dos quais eu não vou esquecer tão cedo ou quem sabe, não mais. E, inegavelmente, ainda permanecem alguns resquícios da sua estadia aqui. Mas eu espero que passe.. Eu me conheço. É, vai passar!

Por teu olhar, teu sorriso!

Fui eu que tomei a primeira decisão. Ainda lembro da ginga, do vestido arrastado, da flor de Liz entre os cabelos crespos e teu toque de suavidade ao rodar. Não consigo, ou talvez não me permito, pensar em outra presença naquele lugar e naquela noite a não ser a tua. Os pés inconfundíveis marcavam a passos firmes o ritmo da dança mística. O aroma das velas de ervas refinadas me acalma mesmo sem o mínimo de carnalidade entre meu ser e o seu diante da boca tua. Distante, ainda te admiro e, ciumento, aguço os tantos anestesiados por teus enlaces e compassos. Aproximo-me, perco a fala, o dom e a calma. Você, tímida, me fala, me questiona, me sopra teus anseios e desejos mais íntimos. Seguro meu violão e esse amor se esvai diante de um dedilhado brotando entre os meus dedos e entre as velhas cordas sentimentos escalados. Quando o vento surge e faz teu corpo marcar tuas belas linhas delineando o pano que te veste e a chuva vem chegando vagarosa e fina, enxergo o teu olhar mirando o céu como quem questiona. Desvisto-me. Tento, ao menos, te proteger da ação da imatura água, mas você ignora. Beija-me a face como quem agradece. Não me satisfaço, pois parece que você evita, parece que corre. Os labirintos proporcionados pela solidão da noite são bem vindos nessa noite. Teu vestido molhado, seu cabelo encharcado e ainda sim a sutileza se mostra através do teu corpo. É impossível meu desejo de querer que se rendesse aos meus encantos e que permitisse a alocação dos meus sentimentos, os mais intensos desse mundo, em teu coração. Não entendo em suma maioria seus gestos. Procuro-te e ao chegar perto da deserção da praia brava, lá está você e de longe, junto a um rochedo, me purifico por teu olhar, por teu sorriso.