Quer inventar? Você pode pegar todos esses baldes de tinta e jogar com suas combinações de cores na tela do meu coração. Quando tudo se une e as cores se entrelaçam, o escuro é no fim o que prevalece. Ainda sim, amo teu prazer e os desafios impostos por ele com toda proporção da sua fala. Ninguém no mundo poderia imaginar como eu sinto falta dos momentos de impulsão. Aonde quer que eu vá, tenho tantas coisas pra lembrar. Um misto de sensações me faz perceber, dia pós dia, que nada é mais importante do que a travessia. Nessa cena, minha e tua, de experiências perfumadas e vocacionais, posso perceber o quanto te quis ao meu lado. Aflição me vem à mente, quando me vejo diante de uma tela e só um pobre conteúdo de nanquim me convida a rabiscar. Será possível demonstrar sensibilidade se não, cuidando bem do meu amor? Quero inovar, mas quem disse que eu consigo? Consegue perceber o quanto é difícil gostar de si próprio? Conhecer alguém se iguala à primeira experiência de pintor. A relação deve enlaçar a parte íntima, pincel e tinta. Sempre que se destoam em uma tela, cores performáticas, há sentimentos? Analisar cenas é inviável. Não quero estar no lugar onde poderei ver meus quadros partirem. Saudade dos convites para criação de arte na praia. Apenas queria marcar minha história e causar boa impressão. Queria na verdade transformar toda minha desilusão numa linda canção. Como num teatro, as cortinas fecham. Na vida dos meus quadros, as tintas ressecam, as cores desbotam e por fim se tornam inúteis. Tudo tem seu tempo de vida, tudo se comunica. Não saem da minha cabeça todas as lágrimas que borravam meus quadros. Quando pinto, prefiro estar no escuro. A inconseqüência dos atos me alegra. Agora, pra me fazer feliz é só usar as cores certas. Não é tão difícil, se esforce! Eu sei que você pode! Não posso morar com você. É mais fácil à distância. Você se perderia nas combinações de tintas. Tropeçaria em quadros importantes. Chego até a pensar que você se irritaria se eu pintasse a ponta do teu nariz de azul, quem sabe uns pingos de branco. O grande erro anda me perseguindo... Uso você para todas as artes, como inspiração para todos os meus modelos e criações. Essa cena se repete: a nossa cena! Mudaria muita coisa se você decidisse aprender comigo a esculpir toda a sensibilidade. Você vive dizendo que não dá, que não tem tempo pra arriscar, recomeçar uma forma irregular. Não tenho força, na verdade as perco de acordo com o tempo no qual tento te convencer de maneira vencida. Quando olho minha aquarela descomposta, percebo o quanto fora do padrão de colorido me encontro. Quem sabe meus pincéis também ressequem
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Nossa Cena
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Saudade
Bate aqui dentro de mim. Uma nota perfeita desfaz as intenções. Saudade essa que me arranha, me invalida, me faz perecer diante dos suspiros escorregadios deste quarto vazio. Tematizo meu lar sombrio onde desfaço minhas emoções. Devaneio inculto, deplorável mundo de arranha-céus. Mundo que me deserda dos teus prazeres, dos seus sublimes olhares ímpares, da pluralidade do ser, da intenção, do modo. Onde terá ficado meu impuro desalinho? A forma que me contorço, forma que fiz pra te contornar, contornos ideais que combatiam minha loucura? Um mero compasso sem meu par pra dançar. De um lado suas roupas, do outro seu perfume. Perfume: um impuro acorde místico, salvador de noites de ares estagnados. As ventanas se abrem e a cortina esvoaça. Uma força me transporta ao peitoril da estreita varanda. A Lua resplandece sutil em sua fase crescente. Um arrebatador disparo... Abro os olhos. Saudade porque assombras a mim? Fui tão fiel aos meus sentimentos. Traduzo essa infelicidade em palavras e escrevo mais do que como, talvez mais até do que respiro. Um grito incerto. Algum fato. Relógio travado. Vergonha por não me conter, por não saber a noção do certo ou do errado. Tenho medo de querer e de ainda mais à longitude dos graus e a distância dos pólos: a insegurança. No fim acaba não sendo saudade, mas medo de enlouquecer e não crescer. Medo da indiferença do querer. Saudade do toque do telefone anunciando você. Saudade da sombra atrás da porta, dos teus sonhos, teus estampidos, teus zumbidos, teus colapsos, teus defeitos e manias. Saudade, nada mais.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Adjetivando um pé 34
Na verdade, eu nunca havia tocado em um pé 34. Vi marcas do tempo. De uma delicadeza sutil e fina. Encontrei-o ao vê-lo exposto ao sol de um inverno ameno. O movimento dentre vários anéis de fumaça foi instável. Uma tensa levada inconseqüente, provocando uma dor vertente, num plano de fala florescente de entendimento e paladar. Foi quando, quimicamente, estanquei o sumo carnal, posto em uma velocidade derradeira sem fim. Um talho de proporção desnecessária, feito de necessário por um acaso do tempo, onde conceitos se mudam, palavras somem ou se fazem faltar, momentaneamente e, são transformados em pensamentos turvos e célebres dentro de um contexto mútuo. Ainda sim, tudo se iniciou do toque ao pé 34. Mesmo de conceito pequeno se agiganta, proporcionalmente, diante de quem o possui. A clareza e a necessidade de marcar fazem do 34 um número significativo em minha vida. A situação era clara para quem passava e via a cena. Num momento cujas informações não se encaixavam, alguém buscou entender e ainda sim, como porta para toda uma resolução de causa nobre, mostrar diagonalmente o quanto era importante à imposição dessa relação. A instabilidade com a qual esse pé 34 veio pisando em meu mundo, confesso, foi percebida desde o primeiro passo. Hoje, sei que cada palavra por mais arrogante que tenha sido pronunciada, foi de muito valor para que nos dias de hoje teus pés de volúpios traços cruzassem, com classe, um espaço de rota em km impercebidos. Pode até ser curativo para o seu maldito talho, o veneno da presença ou o embaraçoso de um pranto simples, onde verdade combinada com espelhos te faça melhor. Possuo o antídoto, mas me reservo a fórmula. Fórmula cuja intenção se mascara e, nem a sutileza de um pé 34 pode desmascarar.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Ela
Ela criava vínculo entre o mar e seus olhos. A água agora era parte de um só. Um só partido de sofrimento que vem e vai. Ela tinha medo, ela era só. Uma forma única de viver e de ser: ela. Foi abandonada, enganada, humilhada. Uma alma procurando campos livres, independência. Até para levantar, a pobre coitada, tinha medo. Ela sabia que era importante seguir e prosseguir com os sonhos vivos. Não podia se entregar, não podia deixar de amar, de viver. Ela vivia na pureza, era beleza, encanto, mas aprendeu vivendo ali que nada sem seu amor poderia reluzir. Um amor não-amado compôs seu passado, seu destino então foi selado pelo caminho do cárcere sentimental. Ela queria amar, mas seu coração não. Queria mostrar ao mundo tudo o que tinha trazido para despejar como proteção, queria deixar de ser o problema e queria ser a solução. E quem disse que sempre era tomada de disposição. A menina tinha se tornado feroz, um algoz do próprio destino. Não pensava em reescrever seu destino, não podia dar as costas ao seu amor profano, insano. Ela que era mais do que pensava ser, ela que era um digno ser dentre os seres sem razão. Ela só queria amar novamente.